No contexto da retomada gradual das atividades presenciais na UFF, a Pós-graduação Teresa tem organizado atividades e visitas de campo no intuito de oferecer aos(as) estudantes vivências nos territórios tradicionais. No último dia 10 de dezembro, foi realizada uma atividade conjunta das disciplinas de Agroecologia e de Povos e Comunidades Tradicionais no quilombo de Santa Rita do Bracuí, em Angra dos Reis.
O curso Teresa tem como principal característica a articulação entre saberes científicos e tradicionais e toma o território da Baía da Ilha Grande como um laboratório a céu aberto. Nesse sentido, as vivências nas comunidades são fundamentais para o processo de aprendizagem fundamentado na proposta político-pedagógica que articula territórios e saberes.
A atividade no quilombo do Bracuí teve início pela manhã, com acolhimento e café quilombola, preparado a partir das tradições alimentares da comunidade. Após o café, em uma roda de conversa, Marilda Francisco, liderança do quilombo Santa Rita do Bracuí, contou um pouco da história e das lutas da comunidade. Marilda abordou também aspectos culturais e falou sobre as estratégias contemporâneas de resistência, que perpassam o jongo, as festas e os trabalhos realizados para articulação das juventudes. Em seguida, como parte das atividades da disciplina de Agroecologia, @s estudantes participaram da preparação do almoço, colhendo hortaliças, legumes, frutas, palmito no quintal da casa de Marilda, e ajudando no preparo dos alimentos.
Na parte da tarde, a turma da disciplina Povos e Comunidades Tradicionais fez as apresentações dos trabalhos. A proposta da avaliação final da disciplina foi estimular reflexões em linguagens não convencionais. Os quatro grupos de alun@s que apresentaram seus trabalhos foram: 1) performance cênica, inspirada no Teatro do Oprimido, tematizando a sobreposição de unidades de conservação e a criminalização de práticas tradicionais agrícolas e extrativistas; 2) produção audiovisual, trazendo o relato das marisqueiras de Angra dos Reis sobre o desaparecimento do marisco e suas possíveis causas e consequências socioambientais; 3) apresentação poética e musical tematizando a invisibilidade da mulher na tradição cultural da ciranda caiçara; 4) e uma apresentação audiovisual a partir das narrativas de lideranças guarani mbya enfatizando a importância da oralidade e suas relações simbólicas na cultura indígena, também apresentada pelo grupo de alunas.
Os trabalhos expressaram a diversidade dos povos e comunidades tradicionais do território da Baía da Ilha Grande, assim como as potencialidades das diferentes linguagens para fomentar reflexões e sensibilizar as pessoas tanto para as questões que afetam e ameaçam os povos e comunidades tradicionais, mas também para a riqueza cultural desses grupos e de seus territórios.
Avaliar o aprendizado da turma em atividades práticas e em expressões para além do texto escrito, revela a existência de um leque de possibilidades que a Pós-Graduação Teresa tem desenvolvido na perspectiva da interculturalidade e do diálogo de saberes.
Vida longa à Teresa e seguimos rumo a 2022.
Colaboraram neste texto José Renato Porto (UFF, professor da disciplina de Agroecologia), Anna Maria Andrade e Paula Callegario (OTSS, professoras da disciplina de Povos e Comunidades Tradicionais)